26 de mar. de 2015



Que vergonha,
sr. apresentador
das tardes de domingo?

Estavam a velejar à proa da caravela dois gajos, Manoel e João Pascoal. 
Vinham de braços abertos recebendo a brisa marinha feito dois marujos apaixonados... apaixonados, óbvio, pelo mar.

De repente, Manoel houve vista de algo na linha do horizonte em meio à bruma da manhã. Incrédulo, esfregou os olhos embaçados para ver melhor e a pular de alegria gritou: É terra! (1)Pariu a galega! Veja Pascoal, é um monte! Um monte, Pascoal! A reação da marinhagem foi de espanto e também pôs-se a gritar: É o Monte Pascoal! É o Monte Pascoal!
Os lusitanos toparam com os selvícolas pataxós, que espreitavam da praia, bêbados de (2)cauím tatá, e que também tomados de alegria, pois tinham (3)pego uma buba,  puseram-se a dançar e a gritar: “Viva o Monte Pascoal”.  Então, o primeiro avistamento da nova terra veio a chamar-se Monte Pascoal. Cabral ouvindo a gritaria subiu ao convés e indagou: - Ó Pascoal, avistaste um monte? (4)Que fixe! Bestial! Ora pois, mas, um monte de quê?
- Ora, de terra, Capitão. De que haveria de ser? Inda não há políticos.

Os índios, vestidos com seus colares e (5)bandoletes, receberam os portugueses na praia e já foram perguntando: a que horas há de ser a missa? É o frei Henrique Soares de Coimbra quem irá rezá-la? Quem há de escrever a primeira carta para o rei Manoel I? Deixa o Pero Vaz de Caminha relatar o facto; ele é jornalista. Todas estas indagações tinham fundamento, pois Cabral não fora o primeiro a aportar nestas praias. Dois anos antes, outro católico, Duarte Pacheco Pereira já tinha aqui aportado e feito camaradagem com os índios.
Bem, mas voltando ao monte, eu posso dizer que o gajo Pascoal tinha este nome porque sua mãe o tinha parido no dia de Páscoa. Penso que os jesuítas é que estavam a escolher os nomes dos lugares, pois a partir daí tudo o que era descoberto tinha que ter nome de santo. Ora, se Portugal era uma nação católica; se Cabral era católico; se os jesuítas eram católicos; se os marujos eram católicos e os prisioneiros católicos; então como não houvera de ser? Todo monte era nome de santo, toda montanha, santa; toda baía, santa; todo rio, santo... então a Ilha de Vera Cruz virou Terra de Santa Cruz e Brasil.

Ia tudo sendo muito católico. Ia tudo indo muito bem, mas não se sabia se seria (6)sim ou sopas. O tempo foi passando, passando... até que abriram uma igreja de outra denominação. E, foi aí que tudo começou. Foi no dia 08 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, na Rua Santo Antonio, na Vila de Santa Maria, no Bairro de Sant’Ana do Alto, no sítio santo de Itamaraju, que ora fica no estado santo e tranquilo da Bahia. Estranho, não posso dizer-te que algo estava errado, mas posso afirmar-te que era inusitado. Depois desta primeira, foi-se abrindo igrejas e padarias em todos os quarteirões. Agora, parece que não estamos tão católicos, porque existem igrejas para todos os gostos e todas as finalidades. Hoje, até podemos assistir na Tv um programa de um canal cristão, chamado “A Fazenda” onde pessoas estão a fazer coisas indecorosas. Isto não é nada cristão, nada evangélico, nada católico. Cabral que em 1500 implicou com os índios nus e pediu a alguns que escondessem suas vergonhas, certamente cobriria os olhos. Tem um outro apresentador famoso das tardes de domingo, que se diverte com babaquices e brincadeiras sensuais cujos protagonistas, propositalmente, são freiras e padres. É um quadro substancialmente pejorativo, em que há nítida intenção de ridicularizar os católicos. Pero Vaz de Caminha, se estivesse vivo, com certeza, escreveria “outra  primeira carta”, agora endereçada a este apresentador, protestando com veemência. Nós, católicos, somos bonzinhos, estamos apenas dando a outra face e não fazemos nada. Porque o dito apresentador não faz as mesmas brincadeiras maliciosas e irônicas usando os pastores e obreiros da seita frequentada por parte da sua família ou com seguidores do Islam?
Ah, ai !!!   

- (1)Pariu a galega: Muita gente na praia. -  (2)Cauím-tatá: aguardente. -  (3)tinham pego uma buba: estavam embriagados. -  (4)Que fixe! Bestial!: Legal! Fantástico! -  (5)Bandoletes: Tiaras de penas. -  (6)Sim ou sopas: se correria bem  em ou não.