Que vergonha,
sr. apresentador
das tardes de domingo?
Estavam a velejar à proa da
caravela dois gajos, Manoel e João Pascoal.
Vinham de braços abertos recebendo
a brisa marinha feito dois marujos apaixonados... apaixonados, óbvio, pelo mar.
De repente, Manoel houve vista de
algo na linha do horizonte em meio à bruma da manhã. Incrédulo, esfregou os
olhos embaçados para ver melhor e a pular de alegria gritou: É terra! (1)Pariu a galega! Veja Pascoal, é um monte!
Um monte, Pascoal! A reação da marinhagem foi de espanto e também pôs-se a
gritar: É o Monte Pascoal! É o Monte Pascoal!
Os lusitanos toparam com os
selvícolas pataxós, que espreitavam da praia, bêbados de (2)cauím tatá, e que também tomados de alegria, pois tinham (3)pego uma buba, puseram-se a dançar e a gritar: “Viva o Monte
Pascoal”. Então, o primeiro avistamento
da nova terra veio a chamar-se Monte Pascoal. Cabral ouvindo a gritaria subiu
ao convés e indagou: - Ó Pascoal, avistaste um monte? (4)Que fixe! Bestial! Ora pois, mas, um monte de quê?
- Ora, de terra, Capitão. De que
haveria de ser? Inda não há políticos.
Os índios, vestidos com seus
colares e (5)bandoletes, receberam os
portugueses na praia e já foram perguntando: a que horas há de ser a missa? É o
frei Henrique Soares de Coimbra quem irá rezá-la? Quem há de escrever a
primeira carta para o rei Manoel I? Deixa o Pero Vaz de Caminha relatar o facto;
ele é jornalista. Todas estas indagações tinham fundamento, pois Cabral não
fora o primeiro a aportar nestas praias. Dois anos antes, outro católico,
Duarte Pacheco Pereira já tinha aqui aportado e feito camaradagem com os
índios.
Bem, mas voltando ao monte, eu
posso dizer que o gajo Pascoal tinha este nome porque sua mãe o tinha parido no
dia de Páscoa. Penso que os jesuítas é que estavam a escolher os nomes dos
lugares, pois a partir daí tudo o que era descoberto tinha que ter nome de
santo. Ora, se Portugal era uma nação católica; se Cabral era católico; se os
jesuítas eram católicos; se os marujos eram católicos e os prisioneiros
católicos; então como não houvera de ser? Todo monte era nome de santo, toda
montanha, santa; toda baía, santa; todo rio, santo... então a Ilha de Vera Cruz
virou Terra de Santa Cruz e Brasil.
Ia tudo sendo muito católico. Ia
tudo indo muito bem, mas não se sabia se seria (6)sim ou sopas. O tempo foi passando, passando... até que abriram uma
igreja de outra denominação. E, foi aí que tudo começou. Foi no dia 08 de
dezembro, dia da Imaculada Conceição, na Rua Santo Antonio, na Vila de Santa
Maria, no Bairro de Sant’Ana do Alto, no sítio santo de Itamaraju, que ora fica
no estado santo e tranquilo da Bahia. Estranho, não posso dizer-te que algo
estava errado, mas posso afirmar-te que era inusitado. Depois desta primeira,
foi-se abrindo igrejas e padarias em todos os quarteirões. Agora, parece que
não estamos tão católicos, porque existem igrejas para todos os gostos e todas
as finalidades. Hoje, até podemos assistir na Tv um programa de um canal
cristão, chamado “A Fazenda” onde pessoas estão a fazer coisas indecorosas.
Isto não é nada cristão, nada evangélico, nada católico. Cabral que em 1500
implicou com os índios nus e pediu a alguns que escondessem suas vergonhas,
certamente cobriria os olhos. Tem um outro apresentador famoso das tardes de
domingo, que se diverte com babaquices e brincadeiras sensuais cujos
protagonistas, propositalmente, são freiras e padres. É um quadro
substancialmente pejorativo, em que há nítida intenção de ridicularizar os
católicos. Pero Vaz de Caminha, se estivesse vivo, com certeza, escreveria “outra primeira carta”, agora endereçada a este
apresentador, protestando com veemência. Nós, católicos, somos bonzinhos,
estamos apenas dando a outra face e não fazemos nada. Porque o dito
apresentador não faz as mesmas brincadeiras maliciosas e irônicas usando os
pastores e obreiros da seita frequentada por parte da sua família ou com
seguidores do Islam?
Ah, ai !!!
- (1)Pariu a galega: Muita gente na praia. - (2)Cauím-tatá: aguardente. - (3)tinham pego uma buba: estavam embriagados. - (4)Que fixe! Bestial!: Legal! Fantástico! - (5)Bandoletes: Tiaras de penas. - (6)Sim ou sopas: se correria bem em ou não.
- (1)Pariu a galega: Muita gente na praia. - (2)Cauím-tatá: aguardente. - (3)tinham pego uma buba: estavam embriagados. - (4)Que fixe! Bestial!: Legal! Fantástico! - (5)Bandoletes: Tiaras de penas. - (6)Sim ou sopas: se correria bem em ou não.