13 de mai. de 2020

COLETÂNEA 05


Metáforas sinestésicas

O poeta é quem percebe a beleza oculta até no lixo,
e venera a sua utilidade entronando-a num nicho.

O poeta é um solo ferido pela charrua e fecundo,
onde germina o halo de um amor profundo.

O poeta é jardim de impressões e sentimentos,
onde a garoa da eternidade cria recendentes momentos.

O poeta é o que trabalha as sensações com liberdade,
regando-as com as lágrimas colhidas na saudade.

O poeta é quem cuidadosamente perfuma o barro
e com as mãos sujas constrói em volta da flor, o jarro.
J. Thamiel


Céu com poesia

Uma procissão descomunal de astros
segue inalterada sua rota matemática,
deixando no espaço ardentes rastros
pegadas indeléveis na rota enigmática.

De onde partiram e para aonde irão,
somente a inteligência cósmica dirá.
O nosso dogmatismo racional, então
na grande interrogação permanecerá.

Somos pequenos para o imenso céu.
E assim olhamos para o alto todo dia.
Como não podemos descerrar seu véu;
louvamos o este lindo céu com poesia.
J. Thamiel


Buquê sem rosa

Parece até uma afirmação patética,
porém a poesia tem que ser poética.
É mais sonora quando se usa rima,
pois é o que a consagra e a legitima.

Aí, temos certeza que não é prosa.
Sem rima seria o buquê sem rosa?
Para ser do poeta a glória e tesouro
tem que ter ela uma chave de ouro.

E o seu último verso, final da poesia,
deve ser a moral e um quê de magia,
é, aí que flui do poeta o sentimento,
na divina apoteose do encerramento.
J. Thamiel
   

O final do poema

O poema pode ser romântico ou bucólico
O poema pode ser alegre ou melancólico
Pode ser concreto e pode ser surrealista,
ser até parnasiano, cubista ou dadaísta.

E pode ser intimista, fantástico, exótico.
Não importa qual escola ao poeta seguir,
importa na verdade um final apoteótico,
que faça para o leitor o mundo se abrir.
J. Thamiel


Laus ad poetry 

Dar roupa poética a um sentimento
é transformar a vida em monumento.

É falar do futuro e do presente,
é falar da velhice e da criança.
É falar do passado já ausente,
é falar da ilusão e da esperança.

É falar do amor que dói na gente,
é falar do ciúme e da demência.
É falar da planta e da semente,
é falar do perdão e da clemência.

É falar do ferrão do pólen e do mel,
é falar das derrotas e das vitórias.
É falar do limão da acidez e do fel,
é falar das lendas e das estórias.

É falar da noite, da lua e dos astros,
é falar da clareza e da insanidade.
É falar dos caminhos e dos rastros,
é falar do barro e da oportunidade.

É falar da vida, do calor, do calafrio,
é falar da saudade, tristeza, alegria.
É falar do desdém, aplauso e elogio,
é transformar toda a vida em poesia.

É falar de dor, de amor, de dor, de amor...
J. Thamiel

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