30 de abr. de 2020

COLETÂNEA 02



E as vacas?

As vacas, empoleiradas nas estreitas trilhas
da encosta verde, suave da montanha,
balançam os penduricalhos das gargantilhas,
enquanto cada uma a grama abocanha.

Alheias aos motores dos caminhões na rodovia,
ruminam cabisbaixas sonhos e pensamentos.
Calmas, complacentes, indiferentes ao dia,
justificam suas vidas com frágeis argumentos.
J. Thamiel

Imortais

Não me livro desta utópica esperança
de encontrar o que ainda não perdi.
Não me liberto da serena arrogância
que foi fácil, sem dor pra conseguir.

Virtudes coleciono em toda minha vida,
Meus defeitos eu descarto quando quero.
Sou quase bom, quase honesto nesta lida.
Em tudo que faço de funesto, sou sincero.

Distribuo, por aí, conselhos e sorrisos.
Não importo se não pedem, se não querem.
Sou normal, e somente por fé evangelizo,
e avalio a doutrina que me propuserem.

Numa passagem transversal do tempo,
o ser total é que me ensina, e me faz ver
que pós barreira astral no firmamento,
todos vivemos para nunca mais morrer.

A morte foi vencida, da cruz, lá no portal.
Não deixaremos a vida, basta apenas crer
que temos junto a nós uma parte imortal.
Não morremos, as coisas sim deixam de ser.
J. Thamiel

Anjos da luz 

Voaremos pelo céu,
alados, em nuvens claras,
exalando perfumes ao léu
de orquídeas e rosas raras.

Seremos seguidos por anjos,
mensageiros do divino,
que repicando seus banjos
entoam sagrado hino.

Seguiremos flutuantes
rumo a paz da eternidade.
E, com sons inebriantes
louvaremos a deidade.
J. Thamiel

Vitória

 Minha dor nesta vida fez caminho,
e meus pés perseguiram as jornadas
do futuro, que escapava de mansinho,
não deixando para mim suas pegadas.

Os meus olhos não mais viam o final.
Em meu íntimo eu só tinha a sensação
que a batalha, tão de alma e corporal,
era um punhal me ferindo o coração.

Não podia ser mais forte do que quem
aprendeu que pra vencer precisa amar
as pedras e espinhos da sua trajetória.

Mas, toda vida é muito bela, até além
do que quem sofre consegue imaginar.
A felicidade sempre vem com a vitória.
J. Thamiel

Destino

Raspei com as unhas os túneis do passado
onde dormi o sono letárgico da indecência
me embriaguei em dores, me senti instado
a rolar a nudez na calçada da inocência.

Percorri chorando as alamedas do destino.
Procurando um lugar de paz pra recostar
a cabeça dolorida e o meu corpo franzino,
pra de novo com vida o caminho retomar.

O labirinto andado muita coisa me escondeu.
A vida não me foi mãe, não me livrou da dor.
Nada me ensinou, meu coração não aqueceu,
por isso a angústia vai comigo aonde eu for.

Como era triste, como pesava a minha alma
banhada em sofrimento, agonia e muita dor.
Mas, mesmo assim, por ti mantive a calma
porque sempre confiei em ti , ó meu Senhor.
J. Thamiel



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