26 de abr. de 2020

COLETÂNEA 01

José de Tal

Meu nome é José de Tal.
Conhecido tão só pela vulgaridade
de uma cédula de identidade;
e, não pelo que fez
ou pelo que pode sentir:
a ânsia a força, talvez,
de um castelo construir.
J. Thamiel



Simbiose

Não importa se a formiga
se conduz pelo olfato ou se é cega.
Ela pode até sentir fadiga,
mas dá conta do peso que carrega.

Ela não questiona sua rainha
e se ela produz o dia inteiro,
é porque nunca está sozinha,
 ela é parte do grande formigueiro.


Nesta organização pragmática,
formiga não usa o intelecto;
é uma disposição atávica
ou entendimento ‘introspecto’.

Simbiose perfeita, a nós, quimérica,
comunicação de toque e de pacto
como uma química esotérica,
que nos serve de exemplo e impacto.

J. Thamiel


Um coral de marmanjos

No céu nóis voa.
Nóis não estamos à toa.
No infinito nosso coral ecoa.

No céu nóis voa.
Nóis não estamos de boa.
Para o universo entoamos loa.

No céu nóis voa.
Nossa prece as profundezas atordoa.
Deus sempre nos abençoa.

No céu nóis voa.
Se você não acredita nos magoa,
mas Deus sempre perdoa.

Nóis somos anjos.
Somos um coral de marmanjos;
os que não cantam tocam banjos.

J. Thamiel



A natureza não perdoa

Se o vento viajar sozinho
sem encontrar montanhas pelo caminho,
Se as borboletas cabriolando tristes
não puderem sugar o sal na margem do regato,

Se as abelhas perderem o rumo da colmeia
e não tiverem onde garimpar seu pólen,
Se as formigas abandonarem desorientados
os formigueiros e não mais oxigenarem o solo,

Se o outono não tiver forças para debandar
as folhas amareladas e secas dos arbustos,
Se a primavera não gotejar seu perfume
sobre as flores do jardim,

Se calar o burburinho dos regados travessos
que corre entre a pedras,
Se o cantar dos pássaros for abafado pelos seus
pensamentos descontrolados,

fique alerta. Se a natureza age assim,
é porque não esquece e não perdoa.
Está chegando o fim. 
J. Thamiel




Tra, tre, tri, bra, bre, bri


Uma bruma branca brota do brejo
e atrapalha o trajeto do trem neste trecho.
O trem que freia se trava sobre trilhos
e o atrito desperta na gruta os atrevidos grilos.

Irritados nos abrigos, estridulam, tremem e cricrilam.
Seus gritos atrozes ecoam em altos trilos nas trilhas,
e na cromática tarde, a tripulação atribulada

observa as cobras, insetos e crisálidas
que saem dos crípticos beirais,
atraídas pelas tritinas dos grilos
que troam trovas triviais.

J. Thamiel






37606.19766


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