Sinto dizer, mas os que tem ido em excursões à Terra Santa estão sendo iludidos porque não chegam a conhecer a verdadeira gruta de Belém. A cidade de Belém, em questão, não é o local onde Raquel teria morrido; também não é a cidade natal de Davi; e, nunca pertenceu aos filisteus e nem ao Império Romano.
Não é tão fácil chegar à Belém, pois não é mais na Palestina, não é mais em Belém de Judá. Não é mais chamada “Belém Efrata” como disse Miquéias. Para lá é impossível ir de avião, de navio, de carro ou de ônibus. Só podemos ir seguindo a trilha dos (*) Reis Magos, porém é proibido chegar à gruta levando algum presente.
Se quisermos lá chegar, temos que entender que é o momento de sairmos na chuva, de chafurdar na lama e amassar o barro. É a hora de sujarmos as mãos e moldarmos as telhas e os tijolos para construir o reino. No momento da partida nossas mãos já devem ter a cor da terra, da argila e da luta. Devem estar vazias, porque é assim que devemos chegar à verdadeira gruta de Belém, que realmente não é aquela das excursões. Então, a partir de hoje vamos configurar, de forma diferente, os nossos presentes ou melhor, os nossos créditos para o Natal. Devemos ter como embalagem nossa alegria e nossa disposição. Todos nós temos uma caixinha pequena e na medida exata para carregar os créditos. Tudo caberá nesta caixinha, porque o nome dela é coração. Para chegar em Belém temos que partir no mês de janeiro com nossa caixinha lotada de créditos e chegar em Belém no mês de dezembro com a caixinha completamente vazia. Vamos seguir distribuindo todos os nossos créditos aos pouquinhos, mês a mês, dia a dia, sem pressa... até o dia 25 chegar. É assim que se distribui presentes. É assim que se constrói o reino: um sorriso aqui, um bom dia ali, uma palavra de carinho, um abraço, um pouco mais de atenção, um sim, um perdão...
Junte a família, traga o vizinho, chame o irmão, abrace sua comunidade e ensine, e distribua a todos o amor, a partilha, a fraternidade, a doação. Quanto mais agrados tirar do seu coração, mais pleno ele estará. É este o caminho até Belém na época do individualismo. É a época em que os homens se agrupam em classes de poder de compra. É a época das marcas e das grifes, quando valorizamos efêmeros modismos. Vivemos a época da aparência em detrimento do conteúdo.
É a época do ter ao invés do ser. É a época em que as pessoas mesmo aglomeradas nos estádios, nos cinemas, nos supermercados, conseguem estar sós. Se você se sentir assim, é porque não está gastando os seus créditos. Se você não estiver com as mãos vazias é porque não distribuiu seus presentes entre os que precisavam. É porque não está moldando o barro. É porque não está indo para Belém. Somente de mãos vazias você poderá abraçar o Menino quando chegar a Belém. -
ADENDO: (*) Os reis magos são personagens citados somente por Mateus (2,1-12), que visitam o menino Jesus, trazendo para eles presentes: ouro, incenso e mirra. O evangelista não diz quem são e nem quantos. A tradição retém que eram 3 e deu a eles os nomes de Melquior, Baltasar e Gaspar, nomes que aparecem no Evangelho Apócrifo Armeno da Infância, do fim do século VI, no capítulo 5,10. O texto diz:
Um anjo do Senhor foi de pressa ao país dos persas para avisar aos reis magos e ordenar a eles de ir e adorar o menino que acabara de nascer. Estes, depois de ter caminhado durante nove meses, tendo por guia a estrela, chegaram à meta exatamente quando Maria tinha dado à luz. Precisa-se saber que, naquele tempo, o reino persiano dominava todos os reis do Oriente, por causa do seu poder e das suas vitórias. Os reis magos eram 3 irmãos: Melquior, que reinava sobre os persianos; Baltasar, que era rei dos indianos, e Gaspar, que dominava no país dos árabes.
Os três reis são chamados de “Magos” porque tinham grande conhecimento da astrologia. Entre os persas, se dizia “Mago” aqueles que os judeus chamavam “escribas”, os gregos de “filósofos” e os latinos “sábios”.
(Zezinho, matéria reeditada)
(Zezinho, matéria reeditada)