11 de jun. de 2014


Isaque,
“blém, blém, blém”,
foi salvo pelo gongo?

Na idade média, a medicina era quase inexistente e eram os barbeiros que faziam as cirurgias. O procedimento padrão e comum para curar doenças era a sangria, tratamento que retirava o “excesso de sangue” do organismo. É uma coisa que eu não consigo entender. Como poderiam tirar sangue de indivíduos que só tinham álcool no corpo?


Nesta época bebia-se muito e do bom. O vinho era usado fartamente em todas as refeições para dar força e alegria.  Era bebido principalmente pelos homens, embora na metade do século XV, as mulheres começaram a exagerar em seu consumo. É sabido que as monjas de Stª Clara da Vila do Conde, em Portugal, tinham por determinação do instituidor uma farta ração diária de vinho. Era mais seguro tomar vinho e cerveja do que água, fornecida por rios e riachos das imediações. 
Copos e vasilhames de estanho eram usados para vinho, cerveja ou uísque. E a mistura do estanho com o álcool dava uma reação química estranha, que deixava o indivíduo totalmente desacordado, em coma, literalmente “no chão”. Alguém passando pela rua, iria dizer: - Cara, o infeliz “escafedeu-se”! Tá mortinho da silva!

Como era costume, um amigo, um conhecido ou algum familiar ajuntava o corpo da rua e preparava o enterro.  O corpo era colocado sobre a mesa da cozinha e a família ficava em volta, em vigília, comendo, bebendo, tagarelando, e esperando para ver se o morto acordava ou não. Comiam e bebiam tanto que não era incomum, mais alguém entrar em coma alcoólica.  Foi assim que surgiu o velório. A Inglaterra é um país pequeno, e nem sempre havia espaço para enterrar todos os mortos.  Então, os caixões eram abertos, os ossos retirados, postos em ossuários, e o túmulo utilizado novamente para outro cadáver. Às vezes, ao abrirem os caixões, percebia-se que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo. Então alguém teve a ideia de amarrar uma tira no presunto, digo, no pulso do defunto, passá-la por um buraco feito no caixão e amarrá-la a um sino. Alguém ficava de plantão ao lado do túmulo, durante uns dias; bebendo, porque ninguém é de ferro. Se o indivíduo acordasse... “blém, blém, blém”, o movimento de seu braço faria o sino tocar. E ele seria “saved by the bell”, ou "salvo pelo gongo.

Muitas passagens bíblicas nos mostram personagens “blém, blém, blém”, salvos pelo gongo. A diferença é que esta salvação não aconteceu devido à irresponsabilidade do personagem.  Quando Isaque era jovem, Deus disse a Abraão: “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te a terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto...” (Gn 22: 2).  Durante a caminhada, Isaque pressentindo a morte, pergunta: Meu pai, eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para sacrificarmos? Abraão, confiante, lhe diz: - Deus proverá. Chegando ao local determinado, prepararam o altar e Abraão amarrou Isaque para ser sacrificado. (Eu, de pouca fé, teria saído correndo) Quando ia desferir o golpe, Deus impediu e providenciou um cordeiro. Isaque, “blém, blém, blém”, não foi salvo pelo gongo, mas graças a resignação e a fé de Abraão. Dimas, o ladrão declarado e contrito, “blém, blém, blém”, foi salvo graças ao seu arrependimento. Na história do Bom Samaritano, os indivíduos não são identificados pelos nomes. O homem assaltado poderia ser um dependente de hoje, um desempregado, um alcoólatra, um indigente, um sem teto, etc. Enfim, é alguém carente, desprotegido, marginalizado, sem amigos, sem dinheiro, sem família. E, nós? Com quem nos identificaremos? Seremos alguém que precisará ser salvo pelo gongo ou alguém co-protagonista da salvação? Pense nisso.