Como estava triste Belém ao cair daquela tarde, principalmente porque era a época das chuvas. A viagem tinha sido longa e cansativa. Chegaram ao entardecer com aquela pequena caravana, que foi se formando pelo caminho, mas todos se dispersaram procurando acomodações. Ela era tão menina, tão franzina, e aquela barriquinha se projetava para frente denunciando uma gravidez adiantada, e balançava para lá e para cá na cadência decidida de seus passos. Os pés inchados doíam. As roupas úmidas pesavam no corpo, e as dores pouco a pouco aumentavam.
Estavam ambos cansados, mas seus semblantes aprisionavam a paz e a tranqüilidade que as estrelas despejavam com o orvalho sobre Belém. O chão enlameado, e as pedras escorregadias faziam com que ela segurasse firme nos braços de José, que a amparava e perguntava em cada porta se havia ali um cantinho para os dois. Procuraram até o anoitecer. Não havia lugar. Tudo tinha um preço, tudo era pago naquela noite, até para repousar a cabeça. A cidade não os aceitou. Guiados por uma estranha estrela, eles seguiram para as pastagens, fora dos portões da cidade, e se aconchegaram junto aos animais, que se abrigavam sob o teto quebrado de um pequeno estábulo. E ali esperaram, esperaram... Eles já estavam acostumados a esperar. Todas as gerações anteriores também esperaram. Esperaram sob o domínio dos Egípcios. Esperaram quatrocentos anos na Babilônia. Jó esperou a vida inteira. Seus pais e avós esperaram por um rei forte e poderoso, esperaram por um libertador. O povo esperava um salvador que os livrasse dos romanos. José e Maria também esperavam. Esperavam um filho, o messias. (jthamiel)
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