25 de out. de 2008

+ Água fora da bacia.

Hoje é comum comprarmos água nos semáforos, nos estádios, em shows, mas também compramos água escondida em alguns produtos. Comprei, por engano, bebida láctea, ao invés de leite: era pura água. Os cremes dentais, que antigamente eram pastosos e por isso duravam, passaram a ter a consistência de gel, e agora quase escorrem da escova: muita água. Os sabonetes, mesmo nas saboneteiras com drenagem, derretem rapidamente: é água. Agora você pode comprar “manteiga ao leite”: tem gosto de água.
O mundo todo está voltado para as geleiras dos pólos e os temíveis icebergs, hoje domesticados, se tornaram jóias de consumo. Nossas bacias hidrográficas são alvo de “falso-paternal-protecionismo” das grandes nações, que também nutrem o desejo de, no futuro, repousar e dirimir suas dificuldades à sombra da biodiversidade de nossas florestas e bacias hidrográficas.
Mas, nós brasileiros não nos preocupamos com nada disso.
Pra quê?
Temos berço esplêndido para nos espreguiçarmos. Então consumimos com o fogo da nossa insensatez e com os poluentes da nossa ganância, nossos rios e “as palmeiras de nossa terra onde canta o sabiá”. A parcimônia, na terra em que tudo “em se plantando dá”, não é virtude comum. Economia não é o nosso forte. Nossas torneiras pingam. Nossos esguichos têm fluxo contínuo. Jogamos água “fora da bacia”, e não damos conta disso porque temos água em abundância. A água é finita. Sem ela não viveríamos. Somos água. Água é vida. A água nos hidrata, nos alimenta, nos purifica. Ainda bem que a verdadeira água não se acaba. A verdadeira água jorra em abundância. Ela existe em fartura tanta, que podemos desperdiçar. Nela podemos sempre nos banhar, e dela nos saciar.

A água se tornou símbolo de libertação quando abriu suas entranhas para a passagem do povo de Deus. “E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco, e as águas foram-lhes qual muro à sua direita e à sua esquerda”. (Ex 14,22)

Esta mesma água que foi derramada por João Batista sobre a cabeça de Jesus, derramada sobre nós é iniciação e perdão, nos desligando do pecado original. “E logo, quando saia da água, viu os céus se abrirem e o Espírito, qual pomba, descer sobre Ele; e ouviu-se dos céus esta voz: Tu és meu Filho amado; em Ti me comprazo”. (Mc 1,11)

A água se tornou símbolo de fé quando Jesus se sustentou sobre ela, indo em direção aos apóstolos enquanto o vento açoitava o barco. “Jesus, porém, imediatamente lhes falou: Tende ânimo; sou eu; não temais. Respondeu-lhe Pedro: Senhor! Se és tu, manda-me ir ter contigo sobre as águas”.

O próprio Jesus se identificou como sendo a água viva, que veio ao mundo: “Se alguém tiver sede, venha a mim e beba” (Jô 7,37).

Uma das últimas palavras de Jesus na cruz foi: “tenho sede”(Jô 19,28).

A água se tornou símbolo de redenção quando golpeado por uma lança, Jesus agonizante a deixou jorrar de seu peito. “Contudo, um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água”. (Jô 19,34)

Aqui cabe uma reflexão: que tipo de água estamos bebendo para matar a sede de nossa alma? Vamos apanhando qualquer água, em qualquer poço, que encontramos em nosso caminho? Senhor, dá-nos sempre de beber da sua água.

Jthamiel.

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