Não
é correto rir da desgraça alheia, mas quem é que não gosta de ficar olhando um
bêbado em sua caminhada sinuosa na calçada para ver o momento da queda. A gente
torce para que ele caia; que maldade! Mas, o bom bêbado, para insatisfação
geral, balanga, balanga e não cai. Para ser bêbado tem que ter talento. Seus
passos desgovernados, dois p’ra lá, dois p’ra cá, muitas vezes se perdem na
distância e não vemos o tropeço. Dizem que Deus protege os bêbados e as criancinhas. Dizem também outras coisas, mas não devo escrever... Quase todo bêbado tem mais de um vício. A maioria faz sua “fezinha” no jogo do
bicho e é devota de São Jorge, e andam com fé porque a fé não costuma “faiá”. O
bom “bebum” não pode ter ressaca porque no dia seguinte tem que trabalhar. Ele
sabe que “quem não trabuca, não manduca”. Sabe também que “Deus ajuda o seu
Madruga, digo, quem cedo madruga.” Então, ele acorda cedo para... para que?
Para o primeiro gole, para o segundo gole, e segura na mão de Deus e vai... vai
para o trabalho.
Todo
bêbado afirma que prefere ser bêbado conhecido do que ser alcoólico anônimo.
Este personagem não é folclórico. Ele está entre nós. Ainda bem que Deus também
está entre nós. Não é preciso beber para ter uma caminhada sinuosa. Podemos nos
embriagar socialmente com as seduções do mundo. Você nunca se desviou do
caminho? Nunca andou na contramão? Nunca deu zebra? Nunca tomou uma decisão
errada?
Quantas
vezes perdemos a direção? Quantas vezes travamos as pernas e como na cadência
do bêbado, continuamos misturando nossos passos, dois p’ra lá, dois pra cá?
Porque nos distanciamos da casa do Pai? Ele está sempre lá nos esperando. Está
sempre em casa. Ele não sai. Ele, quando sai, nos observa, nos persegue à
distância. A gente continua seguindo, de costas para Ele, se aventurando no
mundo, dois p’ra lá, dois p’ra cá, mas Ele não nos perde de vista. Ele nos
chama. Ele clama, e de repente, a gente volta. Volta porque nossos amigos estão
lá. Nosso pai, nossa mãe, que continuam na esperança do nosso retorno, estão
lá. A gente volta porque aquele doce nenê, filho da nossa amiga, vai receber o
batismo. Volta porque alguém vai receber a primeira comunhão. Volta para fazer
o encontro de noivos. A gente volta porque temos que escolher a igreja e marcar
a data do casamento.
Serão
estes os motivos que nos impelem a voltar? Não! Nós devemos voltar à igreja porque é lá que
o milagre da Eucaristia acontece em toda Santa Missa celebrada. Porque estando na casa
de Deus, podemos experimentar a graça e através do visível, tocar no invisível.
Porque entrando na igreja, imediatamente acontece o encontro de dois corações:
o nosso do jeito que está, com o de Jesus do jeito que é.
Nós
voltamos porque aquela sementinha, a fé, ainda
está lá, no fundo da nossa alma.
Voltamos porque Jesus nunca desistiu de nós. Voltamos porque a comunidade
continuou unida. Porque nossos entes queridos não desistiram da oração.
Proponho a você que há muito tempo não entra numa
igreja, fazer hoje, ainda que por alguns minutos, uma visita a casa do Pai.
Entre. Sente-se. Respire. Perceba que ali, algo maior te envolve. Esse algo
maior é Deus que com sua santidade, se faz presente. Nem peça nada, nem fale
nada. Apenas experimente.